segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

JÓ E SEUS AMIGOS---PARTE---02





Agora bem, Jó tinha que se despojar de tudo isto; e, se comparamos o capítulo 29 com o capítulo 30, poderemos formar-nos uma idéia do penoso que deve ter sido o processo deste despojamento. Existe uma ênfase particular nestas palavras: "Mas agora", no inicio do capítulo 30. Jó traça, entre estes dois capítulos, um agudo contraste entre seu passado e seu presente. No capítulo 30 ele se encontra ainda ocupado em si mesmo: ainda é o eu quem predomina; mas, ah, quão mudado está tudo! Os mesmos homens que o elogiavam nos dias de sua prosperidade, o tratam com desprezo no tempo de sua adversidade. Sempre é assim neste pobre mundo, falso e enganoso; e bom é advertimos isso. Todos, antes ou depois, terminarão descobrindo a hipocrisia deste mundo; a veleidade daqueles que estão prestes a exclamar um dia "Hosanna!", e no seguinte dia: "Crucifica-o!". não se deve confiar neste homem. Tudo marcha perfeitamente bem enquanto o sol brilha; aguardemos, porém, que cheguem as geladas do inverso, e vejamos então até onde podemos confiar nas impressionantes promessas e declarações da natureza. Enquanto o "filho pródigo" teve bens em abundância para dilapidar, houve multidões de amigos para compartilhar as suas riquezas; mas quando começou a padecer necessidade, "ninguém lhe dava (nada)" (Lucas 15:16). O mesmo aconteceu com Jó no capítulo 30. porém, temos que levar em conta que o despojamento de si mesmo e o descobrimento da hipocrisia e a veleidade do mundo não é tudo. A gente pode experimentar todas estas coisas e não achar finalmente senão problemas e desilusões; e esse será o resultado se não elevamos o nosso olhar a Deus. enquanto o coração não encontre em Deus a sua plena satisfação, qualquer mudança adversa de circunstâncias nos deixará submersos na desolação; então, o descobrimento da veleidade e hipocrisia dos homens nos encherá de amargura. Esta é a explicação pela linguagem que Jó utiliza no capítulo 30: "Mas, agora, se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho" (30:1). Era este o espírito de Cristo? Teria falado assim Jó ao final do livro? Certamente que não; oh, não, querido leitor! Uma vez que Jó se encontrou em presença de Deus, terminaram o egotismo do capítulo 29 e a amargura do capítulo 30. Porém, ouçamos ainda mais expressões de desafogo: "Eram filhos de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra eram expulsos. Mas, agora, sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio. Abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir. Porque Deus desatou a sua corda e me oprimiu; pelo que, sacudiram de si o freio perante o meu rosto. À direita, se levantam os moços; empurram os meus pés, e preparam contra mim os seus caminhos de destruição. Desbaratam-me o meu caminho; promovem a minha miséria; uma gente que não tem nenhum ajudador. Vêm contra mim como por uma grande brecha, e revolvem-se entre a assolação" (30:8-14). Agora bem, tudo isto bem podemos dizer estava muito, mas muito longe do alvo. Lamentações por uma grandeza desvanecida e amargas invectivas contra nossos semelhantes não servirão de nada para o coração, nem manifestam para nada o espírito e a mente de Cristo; assim como também não glorificarão seu santo Nome. Se contemplarmos a bendita pessoa do Senhor, veremos algo completamente diferente: o Senhor Jesus, "manso e humilde de coração", recebe todo o desprezo do mundo, sofre o desengano em meio do seu povo Israel e se encontra com a incredulidade e os desatinos dos seus discípulos. Tudo isto Jesus assumiu dizendo simplesmente: "Sim, ó Pai, porque assim te aprouve" (Mateus 11:26). Ele foi capaz de se apartar de toda a agitação dos homens e olhar simplesmente a Deus, para proferir então estas maravilhosas palavras: "Vinde a mim... e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28). Nenhum desgosto, amargura, invectivas nem palavras duras ou ofensivas poderemos achar jamais neste gracioso Salvador que desceu a este mundo frio e sem coração, para manifestar o perfeito amor de Deus e prosseguir sua trilha de serviço apesar de todo o ódio dos homens. Mas o mais excelente, o melhor dos homens, quando medido com a vara perfeita da vida de Cristo, não lhe chega nem à sombra. A luz de Sua glória moral põe de manifesto os defeitos e as imperfeições do mais perfeito dos filhos dos homens, "para que em tudo tenha a preeminência" (Colossenses 1:18). Enquanto à paciente submissão que foi chamado a suportar, Ele sobressai em vívido contraste com um Jó ou um Jeremias. Jó sucumbiu sob o peso das provas pelas que teve que passar. Não só deixou escapar um torrente de amargas invectivas contra os seus semelhantes, mas até amaldiçoou o dia do seu nascimento. "Depois disto, abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia. E Jó, falando, disse: Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!" (3:1-3). Achamos algo idêntico no caso de Jeremias, esse bem-aventurado varão de Deus. Ele também, não podendo resistir à pressão das diferentes provações que iam acumulando-se, deu lugar aos seus sentimentos com estas amargas palavras: "Maldito o dia em que nasci: o dia em que minha mãe me deu à luz não seja bendito. Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso, grandemente. E seja esse homem como as cidades que o Senhor destruiu, sem que se arrependesse: e ouça clamor pela manhã, e ao tempo do meio-dia um alarido. Por que não me matou desde a madre? ou minha mãe não foi minha sepultura? ou não ficou grávida perpetuamente? Por que saí da madre, para ver trabalho e tristeza, e para que se consumam os meus dias na confusão?" (Jeremias 20:14-18). Que linguagem! Só pensa em amaldiçoar o homem que traz as novas do seu nascimento! E o amaldiçoa porque não o matou no ventre! Tudo isto, tanto no que refere-se ao patriarca quanto ao profeta, encontra-se em agudo contraste com o manso e humilde Jesus de Nazaré. Ele, o Salvador imaculado, sofreu provas muito mais numerosas e terríveis do que todos os seus servidores juntos. Porém, jamais um só murmúrio brotou dos seus lábios. Tudo suportou com paciência e afrontou a hora mais sombria com estas palavras: "Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" (João 18:11) bendito Senhor, Filho do Pai, quão digno és da nossa adoração! Nos prostramos aos teus pés, sumidos em adoração, amor e louvores, te reconhecendo como Senhor de todo! "Escolhido entre dez mil, e totalmente desejável" (Cantares 5:10,16). A história dos caminhos de Deus com as almas que nos apresenta este livro constitui o campo mais fértil para o nosso estudo; a mais interessante história, sumamente instrutiva e proveitosa. O principal e grande objetivo destes desígnios de Deus com as almas pe o de produzir uma verdadeira contrição e humilhação de espírito; apartar de nós toda falsa justiça; fazer com que nos despojemos de toda confiança em nós mandamentos e ensinar-nos a buscar em Cristo o nosso único amparo. Todos têm que passar através do que poderia denominar-se de "processo de despojamento e esvaziado de um mesmo". Uns experimentam este processo antes de sua conversão ou novo nascimento; outros, depois. Alguns são trazidos a Cristo passando por terríveis experiências e penosos exercícios de coração e de consciência, exercícios que podem durar anos e, a vezes, toda a vida. Outros, em cambio, obtêm esta mesma graça através de exercícios de alma relativamente simples. Estes últimos se apropriam de imediato das boas novas do perdão dos pecados que foi possível graças à morte expiatória de Cristo. Seu coração se enche de gozo em seguida. Mas o despojamento e esvaziamento do eu vem depois e, em muitos casos, pode sacudir a alma desde suas próprias fundações e fazê-la duvidar de sua própria salvação. Isto é muito doloroso, mas absolutamente necessário. Efetivamente, o eu, antes ou depois, deve ser conhecido e julgado. Se a gente não aprende a conhecê-lo na comunhão com Deus, acabará fazendo-o através da experiência amarga de alguma queda, "Para que nenhuma carne se glorie perante Ele" (1 Coríntios 1:29). E todos nós devemos aprender a conhecer nossa absoluta impotência para todo, a fim de poder gostar da doçura e o consolo desta verdade: que Cristo "para nós foi feito, por Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Coríntios 1:30). Deus quer vasos vazios. Não esqueçamos. É uma verdade solene e necessária. "Porque, assim diz o alto e o sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos." (Isaias 57:15). Também lemos: "Assim diz o Senhor: O Céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés: que casa me edificaríeis vós? e que lugar seria o do meu descanso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas estas coisas foram feitas, diz o Senhor; mas eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra." (Isaias 66:1-2). Quão propícias são estas palavras para todos nós! Um espírito contrito e quebrantado constitui uma das necessidades mais urgentes de nosso tempo. A maior parte de nossas calamidades e dificuldades podem serem atribuídas a esta necessidade. Os progressos que realizamos dia a dia, na vida familiar, na assembléia, no mundo, em toda a nossa vida prática, quando o eu é subjugado e mortificado, são verdadeiramente admiráveis. Mil coisas que sem este exercício seriam como uma chama que faz arder nossos corações, são estimados como nada quando as nossas almas se encontram num estado verdadeiramente contrito. Podemos então suportar repreensões e insultos; passar por alto menosprezos e afrontas; pisotear nossos caprichos, predileções e prejuízos, como assim também ceder ante os outros quando não se vejam comprometidos princípios fundamentais; estar dispostos a toda boa obra, manifestar uma agradável amplidão de coração em todas as nossas relações, e ser menos rígidos em nosso trato com os outros, de maneira de enfeitar a doutrina de Deus, nosso Salvador. Mas, ai, quão freqüentemente acontece o contrário com nós! Manifestamos um temperamento relutante, inflexível; combatemos em favor dos nossos direitos; nos inclinamos para todo o que nos dê algum benefício; buscamos nossos próprios interesses pessoais; queremos impor nossas próprias idéias. Tudo isto demonstra claramente que o nosso eu não é ponderado nem julgado de forma habitual na presença de Deus.

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