Primeiro,
temos que nos dar conta de que Deus tem trabalhado ativamente na mitigação do
sofrimento. Lembremo-nos de que o sofrimento se originou no Paraíso, como já
discutimos anteriormente. Deus deu ao homem liberdade de escolha: a escolha do
bem ou a escolha do mal. Parte da constituição humana que distingue o homem de
outras criaturas é a sua capacidade de raciocinar e tomar decisões morais. O
homem é um agente moral livre. Satanás não dá a seus filhos a mesma escolha.
Adão escolheu seguir os conselhos de Satanás e se rebelou (pecou) contra Deus.
A escolha de Adão (seu pecado) abriu uma "caixa de Pandora" de
sofrimento para a humanidade. Um estudo cuidadoso do Gênesis revela que a
atitude de Adão produziu um amplo espectro de sofrimento: físico, espiritual,
social, psicológico e até ecológico. Num sentido muito real, o sofrimento deste
mundo foi criado pelo próprio homem. A tendência ao pecado, a natureza
pecaminosa, é uma característica humana transferida de Adão e Eva para a
segunda geração da humanidade. E foi transferida para todas as gerações
seguintes. Faz parte da natureza humana que todos herdamos. E no entanto foi
Deus quem agiu para solucionar o problema. No Jardim do Éden, Ele deu a Adão um
raio de esperança a promessa de que um dia enviaria o Seu Filho (gerado por uma
mulher) à terra para destruir a obra do demônio e lidar com os problemas do
pecado e do sofrimento do homem. Vimos esta promessa ser cumprida
historicamente, em Jesus Cristo. Por Sua vida, morte e ressurreição, Ele
triunfou sobre Satanás e o pecado, e Ele é a chave para a solução do
sofrimento. Por Sua morte, liberta-nos da punição do pecado. Por Sua
ressurreição, dá-nos o poder sobre a tendência ao pecado, à medida que
permitimos que Ele controle as nossas vidas. As ações pecaminosas do homem
(assassinato, roubo, estupro, terrorismo e assim por diante) infligem o
sofrimento aos outros. Se todos os homens permitissem que Jesus reinasse em
suas vidas, muitos dos padecimentos deste mundo seriam não apenas mitigados,
mas abolidos. Assim, vemos que Deus não esteve passivo com relação à sorte do
homem. Ele agiu. Na verdade, a história toda está se dirigindo para uma época
em que Cristo estabelecerá o Seu reinado sobre todo o universo. Satanás, pecado
e sofrimento serão eliminados inteiramente. Deus promete livrar-nos da punição
e do poder do pecado; e um dia Ele criará um ambiente no qual os homens fiquem
livres da presença do pecado e do sofrimento associado a ele. Isaías 9:6, 7:
"Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho; o governo
está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso Conselheiro, Poderoso
Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da Paz não
haverá fim sobre o seu reino. "quando o nosso governo estiver sobre os
ombros dEle, não haverá fim para a paz." Não Podemos esquecer que Deus
agiu em nosso nome para livrar o mundo do sofrimento. E o espantoso é que Ele o
fez por meio do Seu próprio sofrimento. Ele é um Pai que testemunhou a tortura
e morte do Próprio Filho. Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse
para que você e eu pudéssemos ser libertados do sofrimento. Devido à paixão e
morte de Cristo, aqueles que O aceitaram como seu Salvador estarão livres de um
sofrimento mais intenso a separação eterna de Deus. É no sofrimento de Deus que
vemos o Seu grande amor. Não devemos tentar avaliar o caráter de Deus e julgar
se Ele é ou não um Deus de amor, olhando para os nossos sofrimentos. É olhando
para a Cruz que passamos a conhecer e experimentar a profundidade do amor de
Deus por nós. Desse modo, vemos que Deus tem um plano para a eliminação do
sofrimento. Mas por que Deus não retira todo o sofrimento do nosso mundo agora?
Se Ele tem o poder, por que não o usa agora para o bem da humanidade?
Primeiro, se
Deus fosse erradicar todo o mal deste planeta, teria que erradicar todos os
homens maus. Quem estaria isento, se "todos pecaram e necessitam da glória
de Deus"? (Romanos 3:23) Deus prefere transformar homem mau, ao invés de
erradicá-lo. Há pouco tempo, recebemos uma carta falando de um prisioneiro
condenado a morrer na cadeira elétrica. Vinte e quatro horas antes da execução,
ela foi adiada. Contudo, por causa da sua proximidade com a morte, ele passou a
conhecer Deus de um modo pessoal, através da fé em Jesus Cristo, e tornou-se
uma testemunha vocal de Cristo dentro da prisão. Dos outros prisioneiros no
corredor da morte, agora há 22 dedicados ao estudo da Bíblia com ele. Todos
ficaram abalados com a experiência vivida por ele a morte de repente tornou-se
uma realidade para eles e, através do seu relacionamento pessoal com Deus e o
testemunho deste fato, Ele está sendo utilizado até ali no corredor da morte.
Em Cristo, podemos tornar-nos novas pessoas. "Se alguém está em Cristo, é
uma nova criação; passou o que era o velho, eis que se fez o novo!" (II
Coríntios 5:17) Deus pode extrair um grande bem de qualquer vida dedicada a
Ele.
Segundo, se
Deus retirasse todo o mal do nosso mundo (mas deixasse o homem no planeta) isso
significaria que a essência e "ser humano" seria destruída. O homem
se tornaria um robô. Deixe que eu explique o que quero dizer com isso. Se Deus
eliminasse o mal, programando o homem para realizar apenas atos bons, o homem
perderia a sua marca de distinção a capacidade de fazer escolhas. Não mais
seria um agente moral livre. Seria reduzido à condição de robô. Vamos nos
aprofundar mais. Os robôs não amam. Deus criou o homem com a capacidade de
amar. O amor se baseia no direito de se optar por amar. Não podemos forçar os
outros a nos amar. Podemos fazer com que nos sirvam ou nos obedeçam. Mas o
verdadeiro amor se baseia na liberdade que o homem tem de aceitá-lo na sua
vida. O homem poderia ser programado para fazer o bem, mas o elemento do amor
estaria perdido. Se o homem fosse forçado a fazer o bem, o sofrimento seria
eliminado, mas o amor também. Como seria viver num mundo sem amor? Desse modo,
podemos ver que o uso do poder de Deus para eliminar o mal não provaria ser uma
solução positiva para o problema do sofrimento. Os resultados dessa ação
criariam maiores dilemas. Ou o homem seria reduzido à condição de robô num
mundo sem amor, ou ele seria aniquilado. Na verdade é o amor de Deus pelo homem
que O impede de retirar o mal do mundo por meio de uma exibição do Seu poder. O
plano de Deus é retirar o mal por meio de uma exibição do Seu amor o amor que
Ele demonstrou no Calvário. É no amor de
Deus que encontramos a chave para a solução final para o problema do
sofrimento. A resposta para a antiquíssima questão do sofrimento reside numa
compreensão e apreciação do caráter de Deus. Foi isso o que Jó descobriu. No auge de seus
padecimentos e questionamentos, Deus Se revelou a Jó sob vários aspectos de Seu
caráter. Jó recebeu uma demonstração espantosa da sabedoria de Deus. Através de
sua experiência, ele passou a perceber que Deus merecia confiança com base no
Seu caráter. Embora Jó não pudesse compreender o propósito final de todos os
atos de Deus, podia confiar em Deus. Porque Deus conhece e compreende todas as
coisas. Pode-se confiar nEle para fazer o que é o melhor. Sempre haverá
segredos e motivos de Deus além do alcance do homem. Deus é infinito; o homem é
finito. Nosso conhecimento e compreensão são limitados. Porém, baseados no que
conhecemos do caráter de Deus, demonstrado supremamente na Cruz, podemos ter
confiança que Deus está fazendo o que é melhor para nossas vidas. Corrie ten
Boom descobriu uma boa maneira de explicar a perspectiva de que precisamos ao
enfrentar os problemas da vida que nos intrigam: "Imagine um bordado
colocado entre você e Deus, com o lado direito voltado para Deus.
O homem
enxerga as pontas soltas e gastas do avesso, mas Deus enxerga o desenho
pronto."
Quem Está
no Controle?
Deus está no
controle. Não importa o que surja em nossas vidas, não importa o quanto possa
ser difícil ou perigoso, podemos dizer confiantes: "Sabemos que, aos que
amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados
segundo o Seu propósito." (Romanos 8:28)
O NASCIMENTO DE UM MUNDO
SOFREDOR
Deus achou
melhor extrair o bem do mal do que deixar que nenhum mal existisse. DESDE
tempos imemoriais, a humanidade tem sido atormentada por uma pergunta
insistente: "Como pode um Deus de amor permitir a existência do
sofrimento?" Quando vemos os problemas, tragédias e tribulações do mundo,
até mesmo os crentes sinceros, que enfrentam com honestidade suas dúvidas e
temores, são forçados a perguntar: "Por que, Deus?" Em meio às
lágrimas ou à raiva, escutamos perguntas como: "Por que, Deus, permitiste
que esta tragédia ocorresse?" Ou: "Por que, Deus, permitis que este
sofrimento continue?"
Jack Mowday
era piloto de helicóptero militar. A mulher dele, Lois, e duas amigas tiveram a
idéia especial de dar aos maridos e noivo um presente de Natal de surpresa: um
passeio num balão de ar quente. Sabiam que os homens sempre tiveram vontade de
andar na barquinha de um balão de ar quente. Então, providenciaram tudo para o
dia 15 de dezembro, na Flórida. O dia amanheceu claro e bonito. Foi um momento
emocionante quando os três homens entraram na barquinha. Depois que o balão
subiu, Lois e as amigas foram seguindo-o em dois carros. A barquinha passava
perto dos telhados das casas e os maridos, empolgadíssimos, cantavam canções de
Natal para os moradores lá embaixo. Na sua empolgação, deixaram de notar o cabo
de alta tensão em que a barquinha e o balão se enredaram. O que fora um momento
de alegria e triunfo transformou-se em tragédia, quando as mulheres viram os
seus entes queridos pularem para a morte diante de seu olhos.
Como é que uma jovem esposa e a família
enfrentam uma crise dessas?
Falando numa
cruzada, Lois testemunhou que sabia que "a verdade consumidora na cabeça
de Jack, enquanto pendia da barquinha em chamas, no dia 15 de dezembro, era
que, quando se soltasse, se não sobrevivesse à queda, estaria no céu com o
Senhor". Prosseguiu ela:
Eu sei hoje
que, se morresse ainda esta noite, também eu estaria no céu com o Senhor e com
Jack. Esta certeza total nem sempre existiu para Jack e para mim. Tive a sorte
de ter transferido a minha confiança da minha pessoa para Jesus Cristo quando
tinha treze anos. E embora eu não tivesse crescido muito na minha vida cristã,
por algum tempo, tinha a certeza de que, se algo me acontecesse, eu estaria no
céu. "Desde a morte de Jack, a minha vida mudou dramaticamente. Mas eu
tenho que dizer que a maior mudança foi uma paz realmente sobrenatural e uma
ausência de ansiedade. Ainda me preocupo e tenho momentos de apreensão, mas
nada parecido com antigamente. E creio que tenho esta paz porque pude ver
diretamente que o Senhor realmente vai ao nosso encontro, nas nossas horas
difíceis. Embora a dor da perda de Jack seja muito real, a presença
reconfortante do Senhor também é muito real. Não me sinto em condições de
responder a perguntas como as que formulei no começo deste capítulo. Só o que
posso fazer é examinar com você alguns dos princípios bíblicos básicos, que se
referem à origem do mal, a raiz e causa de todos os padecimentos desde que o
homem veio ao mundo. O que sei é que a Bíblia diz, sem nenhuma ressalva, a
respeito da criação original de Deus: "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis
que era muito bom." (Gênesis 1:31) O processo da criação, inclusive o
homem, fora concluído e Deus olhara para tudo o que tinha criado, declarando:
"bom". Aquilo que é totalmente "bom" exclui o sofrimento, a
dor, o mal e a tragédia. No entanto, dali a alguns versículos, no capitulo 3 do
Gênesis, Deus diz ao homem e à mulher que criara:
"Multiplicarei
grandemente o teu sofrer e a tua conceição; em dor darás à luz os filhos (...).
Maldita é a terra por tua causa; em fadiga tirarás dela o sustento todos os
dias da tua vida. Ela te produzirá também espinhos e abrolhos, e comerás as
ervas do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à
terra, pois dela foste tomado: porquanto tu és pó, e em pó te há de
tornar." (Gênesis 3:16-19) Nestes versículos, jaz a "semente" do
sofrimento, a previsão da dor e da morte, as quais vêm atormentando o homem
desde então. Nestas palavras, descobrimos a origem do mal e a causa dos
padecimentos do homem. O que aconteceu entre Gênesis 1 e 3?
TEM CONTINUAÇÃO.
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