Na supervisão e
direção de uma igreja é necessário o auxílio do Espírito. No fundo, o principal
motivo da divisão de nossa denominação está na dificuldade proveniente do nosso
governo eclesiástico. Tem-se dito que "tende à intranqüilidade do
ministério." Sem dúvida, é muito penoso para quem suspira pelas dignidades
oficiais e sente necessidade de ser o Excelentíssimo Senhor Oráculo, diante de
quem até um cachorro fica proibido de latir. Os incapazes de dirigir algo além
de bebês são justamente as pessoas que têm maior sede de autoridade e, vendo-se
mal aquinhoados dela nestas partes, procuram outras regiões. Se você não pode
governar-se a si próprio, se não é varonil e independente, se não é superior
quanto ao peso moral, se não tem maior dom e graça do que os seus ouvintes
comuns, poderá vestir uma toga e ter a pretensão de ser o líder da igreja mas, não numa igreja de governo batista ou
Presbiteriana. De minha parte, detestaria ser pastor de pessoas que nada têm
que dizer, ou que, se chegam a dizer algo, bem podiam ter ficado caladas, pois
o pastor é Sua Excelência, o Soberano, e os demais são leigos cada qual um João ninguém. Preferiria antes
ser líder de seis homens livres, cujo entusiástico amor fosse o meu único poder
sobre eles, do que bancar ditador de uma vintena de nações escravizadas. Que
posição é mais nobre do que a do pai espiritual que não se arroga
autoridade e, todavia, é estimado por
todos, e cuja palavra é dita apenas como terno conselho mas é recebida como
tendo força de lei? Ao consultar os desejos de outros, vê que o primeiro desejo
deles é saber o que ele recomenda e, cedendo sempre aos desejos de outros, vê
que se alegram em ceder aos seus. Amorosamente firme e generosamente gentil, é
o chefe de todos porque é servo de todos. Isto não requer sabedoria do Alto?
Que poderia ter maior necessidade dela? Quando Davi se estabeleceu no trono,
disse: "E Ele que submete a mim o meu povo." E assim pode falar todo
feliz, pastor quando vê tantos irmãos de
temperamentos diversos querendo alegremente estar sob disciplina e aceitar a sua
liderança na obra do Senhor. Se o Senhor não estivesse entre nós, logo haveria
confusão. Ministros, diáconos e presbíteros, todos precisam ser sábios, mas se
o pombo sagrado parte, e o espírito de contenda entra, é o fim para nós. Irmãos,
o nosso sistema não funcionará sem o Espírito de Deus, e me alegra que não
funcione, pois as suas paralisações e suas roturas chamam a nossa atenção para
o fato da Sua ausência. Nunca se teve a intenção de que o nosso sistema promovesse
a glória de sacerdotes e pastores, mas é planejado para educar cristãos
varonis, que não releguem a sua fé à segundo plano. Que sou eu, e que são
vocês, para que devamos ser senhores dominando a herança de Deus? Algum de nós
se atreverá a dizer como rei francês, "L état, c'est moi" o estado sou eu" eu sou a pessoa mais
importante da minha igreja? Se for assim, não é provável que o Espírito Santo
faça uso desses instrumentos inadequados. Mas se conhecemos os nossos lugares e
desejamos conservá-los com toda a humildade, Ele nos ajudará, e as igrejas
florescerão sob os nossos cuidados. Dei-lhes
um alongado catálogo de pontos nos quais o Espírito Santo nos é absolutamente
necessário. Contudo, a lista está muito longe de ser completa. Deixei-a
intencionalmente imperfeita porque, se eu tentasse completá-la, todo o nosso
tempo expiraria antes de podermos responder a pergunta: Como Podemos Perder
Esta Assistência Necessária? Que nenhum
de nós jamais faça esta experiência, mas é certo que os ministros podem perder
o auxílio do Espírito Santo. Cada pessoa aqui lendo pode perde-lo. Vocês não
perecerão, uma vez que são crentes, porque a vida eterna está em vocês. Podem,
porém, perecer como ministros, de quem não se ouça mais falar que são
testemunhas em prol do Senhor. Se suceder isso, não será sem motivo. O Espírito
reclama soberania semelhante à do vento que sopra onde quer. Entretanto, jamais
sonhemos que soberania e capricho são a mesma coisa. O bendito Espírito age
como quer, mas sempre de modo justo, sábio, e com motivo e razão. Às vezes Ele
dá ou retira a Sua bênção, por razões relativas a nós mesmos. Notem o curso de
um rio como o Tâmisa como torce e
retorce a seu bel prazer. Contudo, há razão para cada volta ou curva. O
geólogo, estudando o solo e observando a forma da rocha, vê a razão pela qual o
leito do rio se desvia para a direita ou para a esquerda. Assim, apesar de que
o Espírito de Deus abençoa um pregador mais que outro, e a razão não pode ser
tal que algum homem possa congratular-se consigo por sua própria bondade,
todavia há certas coisas concernentes aos ministros cristãos que Deus abençoa,
e certas outras coisas que impedem o bom êxito. O Espírito de Deus cai como o
orvalho, com mistério e poder. Mas, no mundo espiritual é como no mundo
natural: certas substâncias se molham com a umidade celestial, ao passo que
outras estão
sempre secas. Porventura
não existe uma causa? O vento sopra onde quer, mas se desejamos sentir uma
forte viração, temos que ir ao mar ou subir as colinas. O Espírito de Deus tem
lugares favoritos para a demonstração do Seu poder. Ele é simbolizado por uma
pomba, e a pomba tem os seus retiros preferidos. Freqüenta as correntes de
águas, os lugares pacíficos e calmos. Não a encontramos no campo de batalha,
nem a vemos pousar na carniça. Há coisas congruentes com o Espírito e coisas
contrárias à Sua mente. O Espírito de Deus compara-se com a luz. A luz pode
brilhar onde quiser, mas uns corpos são opacos, enquanto que outros são transparentes.
Assim, há homens através dos quais nunca aparece o Seu brilho. Portanto, deste
modo se pode demonstrar que, embora o Espírito Santo seja o "livre
Espírito" de Deus, de modo nenhum age por capricho. Entretanto, diletos
irmãos, o Espírito de Deus pode ser entristecido. contrariado, e pode mesmo
sofrer resistência. Negar isto é opor-se ao testemunho freqüente da Escritura.
Pior de tudo, podemos menosprezá-lo e insultá-lo a tal ponto que Ele não fale
mais por nosso intermédio, mas nos deixe como deixou o rei Saul antigamente.
Seria lamentável se existissem homens no ministério cristão aos quais sucedesse
isto; temo, porém, que existam. Irmãos, quais serão os males que entristecem o
Espírito? Respondo: tudo que vos desqualifique como cristãos comuns para a
comunhão com Deus também vos desqualifica para experimentarem o poder extraordinário
do Espírito Santo como ministros. A parte disso, porém, há obstáculos
especiais. Dentre os primeiros, devemos mencionar a falta de sensibilidade, ou
seja, aquele estado de frieza emocional que nasce da desobediência às ternas
influências do Espírito. Devemos ser delicadamente sensíveis ao Seu mais leve
movimento, e então poderemos esperar a Sua presença em nós. Mas, se somos como
o cavalo e a mula que não têm entendimento, segundo a expressão bíblica,
sentiremos o chicote, mas não desfrutaremos das ternas influências do
Consolados. Outro defeito entristecedor é a falta de veracidade. Quando um
grande músico pega um violão ou toca harpa e vê que as notas falseiam, detém a
mão. As almas de alguns homens não são sinceras. Eles são sofisticados e
hipócritas. O Espírito de Cristo não será cúmplice de homens aplicados à
desprezível ocupação de iludir e enganar. Será este o caso aqui que vocês preguem certas doutrinas, não porque
crêem nelas, mas porque a sua igreja espera que as preguem? Estarão vocês dando
tempo ao tempo até poderem, sem risco, renunciar ao seu credo atual e apregoar
o que a sua mente covarde realmente sustenta ser verdadeiro? Neste caso vocês
são decaídos de fato, e estão abaixo dos escravos mais indignos. Deus nos livre
dos homens traiçoeiros, e se estes chegam a formar em nossas fileiras, oxalá
sejam rapidamente expulsos ao som da Marcha do Velhaco . Se nós sentimos
aversão por eles, quanto mais os detestará o Espírito da verdade! Vocês poderão contristar grandemente o
Espírito Santo com uma geral escassez de graça. A frase é temível, mas descreve
certas pessoas melhor do que todas as outras que me ocorrem. A família Graça Escassa
geralmente tem um dos seus membros no ministério. Conheço o tipo. Não é
insincero nem imoral, não tem mau gênio nem é auto-indulgente, mas algo lhes
falta. Não seria fácil provar essa ausência por meio de alguma ofensa ostensiva
de sua parte. O que lhe falta, porém, falta à sua personalidade toda, e essa
carência arruína tudo. Falta-lhe aquilo que por excelência é necessário. Ele
não é espiritual. Não há nele o aroma de Cristo. O seu coração nunca se inflama
no seu interior. Sua alma não vive. Falta-lhe a graça. Não podemos esperar que
o Espírito de Deus abençoe um ministério que jamais devia ter sido exercido, e
certamente um ministério não revestido da graça é dessa natureza. Outro mal que
expulsa o Espírito divino é o orgulho. O modo de ser bem grande consiste em ser
bem pequeno. Ser muito notável em sua própria estima é não ser notado por Deus.
Se você tem profunda necessidade de viver nos lugares elevados da Terra, achará
frios e áridos os pontos culminantes das montanhas. O Senhor habita com os
humildes, mas de longe conhece o soberbo. A preguiça também contraria o
Espírito Santo. Não posso imaginar o Espírito esperando à porta do mandrião, e
suprindo às deficiências criadas pela indolência. A ociosidade na causa do
Redentor é um mal para o qual não se pode inventar desculpa. Nós mesmos
sentimos arrepios ao vermos os movimentos vagarosos dos preguiçosos, e
estejamos certos de que o Espírito Santo, ativo como é, fica igualmente
contrariado com os que agem levianamente na obra do Senhor. A negligência na
oração particular, como muitos outros males, produzirá o mesmo resultado
infeliz. Todavia, não é preciso alongar o assunto, pois as suas próprias
consciências, irmãos, lhes dirão o que entristece o Santo de Israel. Agora lhes
rogo que atentem para esta palavra: Vocês sabem o que poderá acontecer se o
Espírito de Deus for grandemente contristado e retirar-se de nós?
Há duas suposições.
A primeira é que
nunca fomos verdadeiros servos de Deus, mas apenas usados temporariamente por
Ele, como Balaão, e até a jumenta cavalgada por ele. Suponhamos, irmãos, que eu
e vocês continuemos pregando por um tempo sem que nem nós nem outros
suspeitemos que fomos destituídos do Espírito de Deus. Todo o nosso ministério
pode acabar-se de um golpe, e nós com ele. Talvez sejamos derribados na
primavera, como aconteceu com Nadabe e Abiú, para não mais ministrarmos perante
o Senhor, ou talvez sejamos removidos nos anos do amadurecimento, como Hofni e
Finéias, não podendo continuar servindo no tabernáculo da congregação. Não
temos nenhum analista inspirado que nos registre a súbita eliminação de homens
que prometem muito. Se o tivéssemos, porém, talvez lêssemos aterrorizados sobre zelo sustentado por bebidas fortes, sobre
farisaísmo associado a corrupção secreta, sobre ortodoxia declarada ocultando
infidelidade absoluta, ou sobre alguma outra forma de fogo estranho apresentado
no altar, até que o Senhor não o suporte mais e elimine os ofensores com
repentino golpe. Caberá a algum de nós essa terrível condenação? É uma pena, mas vi alguns que, como Saul,
foram abandonados pelo Espírito Santo. Está escrito que o Espírito de Deus veio
sobre Saul. Entretanto, ele não foi fiel à influência divina, esta o deixou, e
um espírito mau lhe tomou o lugar. Notem como o pregador de quem o Espírito se
retirou banca jeitosamente o cínico, critica todos os demais, arremessa o dardo
da calúnia a alguém melhor do que ele. Saul esteve uma vez entre os profetas,
mas se sentia mais à vontade entre os perseguidores. O pregador frustrado
procura destruir o verdadeiro evangelista, recorre aos encantos da filosofia, e
busca o auxílio de heresias mortas, mas o seu poder se foi e logo os filisteus o
encontrarão entre os mortos. "Não o noticieis em Gate, nem o publiqueis
nas ruas de Ascalom... Vós, filhas de Israel, chorai por Saul...Como caíram os
valentes no meio da peleja!" Também alguns que foram abandonados pelo
Espírito de Deus se tornaram semelhantes aos filhos de Ceva, um judeu. Estes
presunçosos tentaram expulsar demônios em nome de Jesus, a quem Paulo pregava,
mas os demônios saltaram sobre eles e o subjugaram. Assim, enquanto certos
pregadores pregavam contra o pecado, os próprios vícios que denunciavam os derrotaram.
Os filhos de Ceva têm estado entre nós. Os demônios da bebedice prevaleceram
sobre o próprio indivíduo que denunciava o cálice fascinante, e o demônio da
impureza saltou sobre o pregador que aplaudia. A castidade. Se o Espírito Santo
estiver ausente, de todas as posições a nossa é a mais perigosa. Cautela, pois!
É lamentável, mas alguns ministros ficaram como Balaão. Era um profeta, não era?
Não falava em nome do Senhor? Não se lhe chamou "homem de olhos abertos...
que tem a visão do Todo-poderoso"? Apesar disso, Balaão lutou contra Israel
e com astúcia arquitetou um plano pelo qual o povo escolhido poderia ser vencido.
Ministros do evangelho há que se tornaram súditos do papa, infiéis, livre-pensadores,
e conspiraram para a destruição daquilo que antes professavam pregar. Podemos
ser apóstolos, mas como Judas, terminar sendo filhos da perdição. Ai de nós, se
for este o caso! Irmãos, presumirei que
somos realmente filhos de Deus. E então? Ora, mesmo neste caso, se o Espírito
de Deus nos deixar, poderemos ser eliminados de um golpe, como se deu com o
iludido profeta que deixou de obedecer à ordem do Senhor nos dias de Jeroboão.
Era sem dúvida um homem de Deus, e sua morte física de modo algum prova que
tenha perdido a alma, mas rompeu aquilo que sabia ser uma ordem de Deus dada
especialmente para ele. Seu ministério terminou ali e naquela exata ocasião,
pois um leão o encontrou no caminho e o matou. Queira o Espírito Santo
proteger-nos dos enganadores e manter-nos fiéis à voz de Deus. Pior ainda,
podemos reproduzir a vida de Sansão, sobre quem veio o Espírito de Deus nos
campos de Dá. Mas, no regaço de Dalila perdeu a força, e na masmorra perdeu os
olhos. Concluiu com bravura a carreira, cego como estava, mas quem de nós
deseja tentar destino tal?
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