O fato de que nosso
Senhor ressuscitou contêm, não somente esses consoladores elementos em referência
a Ele, mas sim que temos de recordar que é uma garantia de nossa própria
ressurreição, para cada um dos que cremos Nele. Na primeira epístola aos
Coríntios, o apóstolo Paulo faz que todo o argumento a favor da ressurreição do
corpo esteja baseado nessa única pergunta: Cristo ressuscitou dos mortos? Se
ressuscitou, então todo Seu povo há de ressuscitar com Ele. Ele era um
representante, e como Senhor Salvador ressuscitou, todos Seus seguidores haverão
de fazê-lo. Se resolvem a pergunta de se Cristo ressuscitou, terão resolvido a pergunta
de se todos que estão Nele, e foram conformados a Sua imagem, também devem
ressuscitar. Quanto a nós, é verdade que os que somos crentes em Jesus, se morremos
e somos depositados na tumba, seremos comidos pelos vermes: regressaremos à mãe
terra e nos converteremos em pó. Por minha parte, eu jamais envolveria o corpo
em chumbo, nem faria nada que impedisse que se desfizesse rapidamente no pó do
qual veio. Parece que é sumamente apropriado e santo deixar que se desfaça e
volte a ser o pó original. Mas aqui está o tema designado. Não importa o que
aconteça com esse pó, nem através de quais transições ele passe. É verdade que as
raízes das árvores poderiam sugar dessa mistura; é verdade que se pode
converter em pasto e em flores para alimentar aos animais: os ventos poderiam
transportá-los a milhares de kilômetros de distância, separando assim todos
seus átomos: um osso poderia ser separado dos demais; mas, tão certo como o
Senhor ressuscitou, nós ressuscitaremos também. Não dizemos que cada partícula
real dessa carne ressuscitará: não é necessário para a identidade do corpo que
deva ser assim; mas o corpo será idêntico, e o mesmíssimo corpo que é semeado
na terra ressuscitará novamente da terra, e com uma beleza e glória da que pouco
sabemos todavia, podem estar seguros disso. O corpo do amado filho de Deus, que
despediste faz alguns anos, ressuscitará outra vez. Esses olhos que você
fechou esses mesmíssimos olhos verão ao Rei em Sua formosura na terra distante.
Esses ouvidos que não podiam lhe ouvir quando sussurrava as últimas carinhosas
palavras, esses ouvidos ouvirão as eternas melodias. Esse coração que ficou tão
frio e inerte como a pedra, quando a morte colocou sua gelada mão sobre ele,
baterá de novo com novidade de vida, e saltará de alegria em meio das festividades
da entrada ao lar, quando Cristo, o Esposo, se despoje com sua Igreja, a
esposa. Esse mesmíssimo corpo! Não era o templo do Espírito Santo? Não foi redimido
com sangue? Certamente ressuscitará quando as trombetas do arcanjo e a voz de
Deus soem! Pode estar certo disso; pode estar seguro disso, quanto a seu amigo e
a você mesmo. E não tenha medo à morte. Que é a morte? A tumba não é mais que
um banho no que nosso corpo, se imerge em especiarias para ficar doce e fresco
para o abraço do glorioso Rei na imortalidade. Não é senão o armário onde
guardou seu vestido durante um tempo. Sairá limpo e purificado, com muitas
lantejoulas de ouro nele, que não estavam ali antes. Era um vestido de trabalho
quando nos desvestimos; será um vestido de domingo quando o coloquemos, e será
apropriado para vesti-lo no domingo. Inclusive poderíamos anelar a noite para
nos trocarmos, e assim poder despertar para vestir essas roupas na presença do
Rei. Ademais para não demorarmos muito
em um só pensamento devemos lembrar que
o fato de que nosso Senhor não está aqui, mas que ressuscitou, contêm um
pensamento consolador: que se foi para onde pode proteger melhor a nossos interesses.
Ele é nosso advogado. Onde haveria de estar o advogado senão na corte do Rei? Ele
está preparando-nos um lugar. Onde deveria estar Aquele que nos prepara um
lugar, senão lá: preparando-lhe? Nós temos um adversário muito ativo, que está
ocupado em nos acusar. Não é bom que contemos com Alguém que pode enfrentar-lhe
cara a cara, e silenciar o acusador dos irmãos? Sou do parecer que se Cristo estivesse
aqui, nesse preciso momento, em pessoa, estaríamos inclinados e dizer-lhe: “Bom
Senhor, tu pode servir-nos bem aqui. Tuas andanças para sarar aos enfermos e
ensinar aos ignorantes, são muito benditas; e nos encanta vê-lo; a visão de Teu
rosto converte a terra em céu; no entanto, nossos grandes interesses demandam
Tua ausência; pois, bom Senhor, nossas orações requerem de alguém as apresente
diante o trono. Conforme uma por uma de nossas orações se elevam ao céu, não
queríamos que estivesse aqui enquanto as enviamos a um lugar no que não estás. Ademais,
quiséramos que estes ali onde o inimigo se apresenta para nos acusar, para que
nos defendas; e como nossa melhor herança está no alto, necessitamos de um
tutor que a preserve para nós. Bom Senhor, é conveniente que Tu te vás”. Não
temos que dizer-lhe isso, pois se foi; e se alguma vez o Cristo foi de duplo
valor, se alguma vez a vantagem de Sua posição acrescentou o valor de Seus
serviços, é agora em que está no céu. Ele seria precioso aqui, mas é mais precioso
lá. Está fazendo mais por nós no céu, do que lhe seria possível fazer por nós
aqui abaixo, até onde nossa inteligência finita pode julgar, e tão certamente
como Sua infinita sabedoria pronuncia. Enquanto tanto Sua ausência é bem
compensada pela presença de Seu próprio Espírito; e Sua presença lá está bem
consagrada por Sua administração pessoal do serviço sagrado em nosso favor. Tudo
está bem no céu, pois Jesus está lá. A coroa está assegurada, e a harpa também,
e a herança bendita de cada tribo de Israel está toda assegurada, pois Cristo
está guardando tudo. Ele é, para glória de Deus, o representante e preservador
de Seus santos. E, por acaso essa verdade: que Cristo não está aqui, mas sim
que se foi, não cai em nossos ouvidos como uma doce força na medida que nos
constrange a sentir que essa é a razão de por que nosso coração não deve estar
aqui? “Não está aqui”: então nosso coração não deve estar aqui. Quando o texto
“não está aqui” foi dito pela primeira vez, queria dizer que não estava no
sepulcro. Ele estava então em algum lugar da terra. Porem, agora não está aqui
de todo. Suponha que você é muito rico, e que Satanás lhe sussurra: “Esses são
jardins deleitáveis; essa é uma nobre mansão; desfruta-lhes”: responda a ele:
“Porem Ele não está aqui; Ele não está aqui, ressuscitou, portanto, não me
atrevo por meu coração onde meu Senhor não está.” Ou suponha que sua família o faz
muito feliz, e quando seus pequeninos se aglomeram a seu redor, e se sentam em
torno de sua lareira, seu coração está muito feliz; e ainda que não possui
muitos bens desse mundo, no entanto, tem o suficiente, e sua mente está satisfeita.
Bem, se Satanás lhe dissesse: “Deves estar muito satisfeito, e encontrar seu
repouso aqui,” diga ao Demônio: “Não, Ele não está aqui; e não posso sentir que
esse seja o lugar de minha habitação. Meu Espírito pode descansar unicamente
ali onde Jesus está.”E, você está apenas começando sua vida? Acaba de passar o
dia de seu casamento? Está começando apenas agora os jubilosos dias da juventude,
o doce encanto do mais puro gozo dessa vida? Bem, deleite-se nisso, mas ainda
assim se recorde que Ele não está aqui, portanto, você não tem o direito de dizer
“Alma, repouse!” Cristo não está em nenhum lado da terra, portanto, nosso
coração não pode construir um ninho em nenhum lado da terra. Não está em nenhuma
parte, não, nem nos lugares altos, nem nos tranquilos lugares de repouso; não
está no jardim das nogueiras, nem nas eiras das especiarias, não está nas
tendas de Cedar, nem entre as cortinas de Salomão; nem sequer em Sua mesa
sacramental, nem entre os meios de graça, está Cristo corporalmente, realmente
presente. Assim que tomaremos a doçura de tudo, e o bem espiritual que poderia
ter em todos os meios externos; porem, ainda assim, todos nos sinalizarão até o
alto, todos eles nos afastarão. Assim como o sol evapora o orvalho, e o atrai
para acima, até o céu, assim Cristo nos atrairá e trará nossos corações e nossos
pensamentos até o alto, e nossos desejos, e todos nossos espíritos, até cima,
até Ele mesmo! “Não está mais aqui”; então, por que eu deveria estar aqui? Oh,
elevese, alma minha; eleve-se, e que todo o doce incenso se eleve até Aquele
que “Não está aqui, pois ressuscitou”!
II. Devo abandonar
esse ponto, e passar a falar em poucas palavras sobre o segundo ponto, que
consiste em
UM CONVITE.
“Vinde, vede o
lugar onde o Senhor jazia.”Amados, não se trata de que irei levar-lhes ao
sepulcro de José de Arimatéia. Não falarei muito sobre isso. Penso que bastará
qualquer tumba para identificar o mesmo ensino sagrado. Essa tarde, quando estava
junto ao sepulcro aberto no cemitério, senti como se tivesse ouvido uma voz:
“Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia”. Não nos deve importar muito qual é o
lugar preciso. Ele jazia no sepulcro: esse é um feito proeminente que nos prega
um sermão cheio de substância. Qualquer tumba pode servir a nosso propósito. No
pequeno povoado, me dei conta da tumba de Cristo da maneira mais vívida, em um
sítio que tinha sido construído para peregrinos católicos. Eu estava no alto de
um cemitério. E vi escritas sobre uma parede essas palavras: “Havia um jardim”.
Estavam escritas em Latim, Abri a porta desse jardim. Era como qualquer jardim;
mas no momento de entrar vi uma mão, que tinha escritas essas palavras: “e num jardim
um sepulcro novo.” Logo vi uma tumba que estava recém pintada, e quando me
aproximei ela, li essa inscrição: “Um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido
colocado.” Então cheguei para olhar dentro do sepulcro, e li outra inscrição
escrita em latim: “Baixando-se a olhar, viu... mas não entrou.” E essas
palavras estavam escritas: “Vinde, vede o lugar onde jazia o Senhor.” Entrei e
vi, esculpido sobre a pedra, o sudário e os lenços colocados ali. Estava
completamente só, e li as palavras: “Não está aqui, pois já ressuscitou,”
esculpidas no fundo do sepulcro. Ainda que temia qualquer coisas cênica, dramática
e papal, no entanto, certamente, percebi em grande medida da realidade da cena,
e essa tarde a vivi de novo, quando estava diante do sepulcro aberto. Eu senti
que Jesus Cristo foi realmente enterrado, que foi realmente depositado na
terra, e que saiu realmente dali, e que é bom que nós vamos e vejamos o lugar
no que Jesus foi posto.
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