3. Terceiro,
precisamos do Espírito doutra maneira, a saber, como a brasa viva tirada do
altar, tocando os nossos lábios. Assim, quando temos conhecimento e sabedoria
para escolher a porção certa da verdade, podemos desfrutar liberdade de
expressão quando vamos entregá-la. "Eis que ela tocou os teus
lábios." Quão gloriosamente fala o homem quando os seus lábios estão empolados
pela brasa viva do altar sentindo o poder de fogo da verdade, não apenas no
recôndito da alma, mas nos próprios lábios com os quais está falando! Reparem nessas ocasiões como estremece a sua
fala. Não notaram, na reunião de oração, em dois dos irmãos que elevaram
súplicas, como era trêmulo o tom da sua voz, e como tremiam as estruturas dos
seus corpos? Porque não somente os seus corações foram tocados, como espero
tenham sido todos os outros corações, mas os seus lábios foram tocados, e esse
tocar fluiu em seu falar. Irmãos, precisamos do Espírito de Deus para abrir as
nossas bocas, para podermos proclamar os louvores do Senhor, ou então não
falaremos com poder. Necessitamos da influência divina para impedir que digamos
muitas coisas que, caso saíssem de fato das nossas línguas, estragariam a nossa
mensagem. Aqueles dentre nós que têm o perigoso talento para o humorismo, às
vezes precisam parar, pegar a palavra ao sair da boca, olhar bem para ela, e ver
se presta bem para a edificação. E aqueles cujo viver anterior os conduziu
entre os grosseiros e rudes, precisam vigiar com olhos de lince a falta de
delicadeza. Longe de nós, irmãos, dizer uma sílaba que sugira um pensamento
impuro ou que desperte uma lembrança duvidosa. Precisamos do Espírito de Deus
para pôr freio e cabresto em nós para impedir que falemos coisas que levem a
mente dos ouvintes para longe de Cristo e das realidades eternas, fazendo-os pensar
em coisas vis da terra. Irmãos, também precisamos do Espírito Santo para nos
impulsionar, em nossa tarefa de comunicar a Palavra. Não duvido que vocês
estejam todos conscientes dos diferentes estados mentais que ocorrem na pregação.
Alguns desses estados decorrem das diferentes condições físicas. Um resfriado
não só tira a clareza da voz, mas também congela o fluxo dos pensamentos. Da
minha parte, se eu não posso falar com clareza, também fico incapaz de pensar
com clareza, e o conteúdo a transmitir fica rouco também, como a voz. Igualmente
o estômago e todos os órgãos do corpo afetara a mente. Mas não me refiro a
essas coisas. Terão vocês consciência das alterações completamente
independentes do corpo? Quando estão robustos, não se sentem um dia pesados
como os carros de Faraó com as rodas retiradas, e noutra ocasião com tanta
liberdade como "uma corça deixada solta"? Hoje o ramo brilha com o
orvalho, ontem foi crestado pela seca. Quem não sabe que o Espírito de Deus
está nisso tudo? Às vezes o Espírito divino age em nós de molde a livrar-nos
completamente de nós mesmos. Em tais ocasiões, do começo ao fim do sermão
podíamos dizer: "Se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe".
Tudo foi esquecido, menos certo absorvente assunto em mãos. Se me fosse
proibido entrar no Céu, mas me fosse dado escolher a condição em que passarei a
eternidade, escolheria aquela em que às vezes me sinto quando prego o
evangelho. Nesse estado presencio o Céu: a mente cerrada para todas as
influências perturbadoras, adorando o majestoso Deus, com plena consciência de
Sua presença, todas as faculdades elevadas e jubilosamente cheias de vigor no
máximo de sua capacidade, todos os pensamentos e poderes da alma alegremente ocupados
em contemplar a glória do Senhor e exaltando com as multidões atentas o
Bem-amado da nossa alma; e durante todo esse intervalo, a mais pura benevolência
concebível para com as demais criaturas a incentivar o coração a pleitear com
elas em prol do nome de Deus que estado
mental pode rivalizar-se com este? Pena é que alcançamos este ideal, porém, sem
o podermos manter sempre, pois também sabemos o que é pregar em cadeias ou dar
murros no ar. Não podemos atribuir santas e felizes mudanças ocorridas em nosso
ministério a nada menos que a ação do Espírito Santo em nossas almas. Estou
certo de que o Espírito Santo realiza esta obra. Vezes sem conta, quando me
assaltam dúvidas sugeridas pelo infiel, posso arremessá-las aos ares com total
desdém, porque tenho definida consciência de um poder que opera em mim quando
fato em nome do Senhor, poder que transcende infinitamente a qualquer
capacidade ou eloqüência pessoal, e que sobrepuja em muito qualquer energia
derivada do entusiasmo que sinto quando faço uma preleção secular ou um
discurso. Aquele poder é tão diferente deste, que tenho toda a certeza de que
não é da mesma ordem ou classe do entusiasmo dos políticos ou do ardor da
oratória pura e simples. Oxalá experimentemos com muita freqüência a energia
divina, e falemos com poder.
4. Mas então, em
quarto lugar, o Espírito de Deus age também como óleo que unge, e isto se
relaciona com todo o trabalho da pregação não simplesmente com a alocução oral, mas com
toda a transmissão do discurso. Ele pode fazêlos sensíveis ao assunto, até ao
ponto de ficarem dominados por ele, quer achatados na terra, quer elevados às
alturas como em asas de águias. Acresce que, além do assunto, Ele os faz sensíveis
ao seu objeto, até anelarem pela conversão dos homens e pelo despertamento dos cristãos,
para que se elevem a algo mais nobre do que tudo que já conhecem. Ao mesmo
tempo, outro sentimento estará com vocês, a saber, um intenso desejo de que
Deus seja glorificado mediante a verdade que estão proclamando. Vocês ficam
conscientes de um profundo e compassivo interesse pelas pessoas a que estão
falando, lamentando que alguns saibam pouco, e que outros saibam muito e,
contudo, o recusam. Vocês fitam alguns semblantes e, em silêncio, o seu coração
lhes diz: "Ali cai orvalho",
e, voltando-se para outros, com tristeza percebem que são como as partes áridas
da montanha de Gilboa. Tudo isto se dá durante o sermão. Não podemos contar
quantos pensamentos passam pela mente de uma vez. Uma vez contei oito grupos de
pensamentos que ocupavam o meu cerébro simultaneamente, ou ao menos dentro do
espaço do mesmo segundo. Estava pregando o evangelho com todas as minhas
forças, mas não pude deixar de sensibilizar-me por uma senhora que estava
evidentemente prestes a desmaiar, e também fiquei procurando o irmão
encarregado das janelas, para que nos desse mais ar. Estava pensando na
ilustração que omitira na primeira divisão, procurando dar forma à segunda
divisão, perguntando-me se este sentira o peso da minha reputação, se aquele se
fortalecera com a observação consoladora, e ao mesmo tempo estava louvando a
Deus por desfrutar eu pessoalmente da verdade que estava proclamando. Alguns
intérpretes consideram os querubins de quatro rostos como emblemas dos
ministros. Eu certamente não vejo dificuldade na forma quádrupla, pois o
Espírito Santo pode multiplicar os nossos estados mentais, e fazer de nós
homens muito superiores além do que somos por natureza. O quanto pode Ele fazer
de nós, e quão grandiosamente pode elevar-nos, não ouso conjeturar. Certamente
Ele pode fazer muitíssimo acima do que pedimos ou pensamos. Especialmente faz
parte da obra do Espírito Santo manter em nós uma disposição devocional enquanto
estamos entregando a mensagem. Esta é uma condição que se deve ambicionar
grandemente continuar a orar enquanto
estamos ocupados com a prédica; cumprir os mandamentos do Senhor, dando ouvidos
à voz da Sua Palavra; manter os olhos postos no trono, e as asas em constante
movimento. Espero que saibamos o que isto significa. Estou certo de que sabemos
o seu oposto, ou de que logo o experimentaremos, isto é, o mal de pregar sem
espírito de devoção. Que pode ser pior do que falar sob a influência de um
espírito arrogante ou irritado? Que é mais debilitante do que pregar num
espírito incrédulo? Por outro lado, que bênção arder fervorosamente enquanto
brilhamos diante dos olhos de outros! Esta é a obra do Espírito de Deus.
Adorável Consolador, opera em nós! Em nossos púlpitos precisamos unir o
espírito de dependência com o de devoção, de modo que, durante a pregação toda,
desde a primeira palavra até a última sílaba, olhemos ao alto para o Forte em
busca de força. E bom lembrar que, embora tivessem chegado até o presente
ponto, se o Espírito Santo os deixasse, fariam papel de tolos antes de acabar o
sermão. Elevando os olhos para os montes de onde vem o socorro durante o sermão
inteiro, com absoluta dependência de Deus, vocês pregarão com espírito de
bravia confiança o tempo todo. Talvez eu esteja errado ao dizer
"bravia", pois não é coisa bravia confiar em Deus; para os
verdadeiros crentes é simples questão de doce necessidade como podem deixar de confiar nEle? Por que
haveriam de duvidar do seu Amigo sempre fiel? Outro dia de manhã, Escrevendo sobre
o texto, "A minha graça te basta", disse aos irmãos que pela primeira
vez em minha vida tinha experimentado o que Abraão sentiu quando se inclinou
sobre o seu rosto e riu. Voltava para casa depois de uma semana de trabalho
intenso, quando veio à minha mente o texto: "A minha graça te basta."
Veio, porém, com a ênfase posta em duas palavras: "A Minha graça te
basta." Minha alma disse: "Sem dúvida é assim. Seguramente, a graça
do Deus infinito é mais que suficiente para um simples inseto como eu." E
ri, e tornei a rir, ao pensar em quanto o suprimento excedia a todas as minhas
necessidades. Parecia que eu era um pequeno peixe no mar, e na minha sede
dizia: "Viva, vou beber o oceano inteiro." Então o Pai das águas
ergueu sublime a cabeça e disse a sorrir: "Pequenino peixe, a ilimitada vastidão
marina te basta." Este pensamento fez com que a descrença parecesse supinamente
ridícula, como de fato é. Irmãos,
devemos pregar cientes de que Deus pretende abençoar a Palavra proclamada, pois
temos Sua promessa neste sentido. E ao termos pregado, devemos procurar as
pessoas atingidas pela bênção. Dirão vocês: "Fico dominado pelo espanto ao
ver que Deus converte almas por meio do meu pobre ministério"? Falsa
humildade! O seu ministério é pobre de verdade. Toda gente sabe disso, e vocês
devem sabê-lo mais que ninguém. Mas, ao mesmo tempo, é coisa para espantar que,
o Deus que disse: "A minha palavra não voltará para mim vazia", cumpra o que prometeu? A refeição irá perder o
seu valor nutritivo porque o prato é barato? A graça divina haverá de ser sobrepujada
por nossa fraqueza? Não. Mas temos este
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não
nossa. Precisamos ainda do Espírito Santo durante o sermão todo para manter os
nossos corações e mentes em condição apropriada. Sim, porque, se não tivermos o
espírito certo perderemos a entonação que persuade e prevalece, e o povo descobrirá
que a força de Sansão o deixou. Uns pregam como quem está ralhando, e assim
põem à mostra o seu mau gênio. Outros se pregam a si próprios, e assim revelam
o seu orgulho. Alguns discursam como se estivessem condescendendo em ocupar o
púlpito, enquanto outros pregam como se estivessem pedindo desculpa por
existirem. Para evitar erros nas maneiras e no tom da prédica, precisamos ser
guiados pelo Espírito Santo, posto que só Ele nos ensina com proveito
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